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Diário de um Par de Olhos

By Santanchè, André

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Book Id: WPLBN0100002826
Format Type: PDF eBook:
File Size: 2.46 MB
Reproduction Date: 1/21/2018

Title: Diário de um Par de Olhos  
Author: Santanchè, André
Volume:
Language: Portuguese
Subject: Fiction, Drama and Literature
Collections: Authors Community, Short Stories
Historic
Publication Date:
2018
Publisher: Self Publishing
Member Page: André Santanchè

Citation

APA MLA Chicago

Santanchè, B. A. (2018). Diário de um Par de Olhos. Retrieved from http://gutenberg.cc/


Description
Nem sempre foi óbvio o quanto sou diferente das outras pessoas. Eventualmente eu me dei conta. Parece estranho como vivi tanto tempo pensando que todos veem o mundo como eu. As pessoas se divertem quando eu digo que não as reconheço de óculos escuros, porque não consigo ver os olhos. Parece uma invenção. Até mesmo eu acreditei que estava inventando. E talvez esteja. O doutor apontou aquela luz para o fundo dos meus olhos em uma tarde do dia dois. Não encontrei nenhum problema, ele disse. Ninguém nasce igual para viver neste mundo, completou. Não há duas pessoas que veem o vermelho da mesma maneira. Mas não é isso. Foi assim que ele disse que era coisa da minha cabeça, não dos olhos.

Summary
E se você a encontrasse e se desse conta nos seus olhos que se passaram intermináveis anos. Se você não soubesse mais com que palavras alcançá-la, como uma perda irreparável, naqueles olhos tão velhos em um rosto jovem.

Excerpt
Começa escuro, mas eu não tenho medo. Lembro hoje como em todos os tempos, é uma parte de uma memória antiga, o som da chuva e dos trovões distantes. Eu ainda não tinha nascido, e aquela intimidade com o som do mundo vazio, onde chove, se fundiu comigo, ali dentro, um pouco antes de eu nascer. A chuva. Escuro e recolhido, ao som daquela coisa que eu ainda não tinha visto, a chuva, eu quis, como o faria toda a vida, que nunca acabasse e, por isso, demorei a sair. Desde aquele primeiro dia, eu nunca entenderia o lugar aonde vou parar quando me perco na chuva. A chuva é um país infinito. O que você está olhando aí, menino? A chuva. Deixo-me diluir por ela, me torno cinzento. Escondo o sol, resfrio o mundo, transformo as casas e as pessoas. Foi uma longa noite de trabalho de parto, em que todos estavam extenuados e eu conheceria as duas outras coisas da minha vida. Primeiro a luz. Eu nasci nos primeiros raios da manhã, em uma cabana. Fachos de luz entrando pelas frestas; pequenas partículas revolteando neles. Como pode não ser maravilhoso? Eu não chorei. Ele está olhando para a luz, disse a parteira em um sorriso. A luz. Ninguém me alertou sobre o mundo que eu encontraria quando começasse a prestar atenção à luz. O seu silêncio, os tons, as sombras, o seu movimento lento pelo dia, a sua chegada, a sua partida. A cabana se transformava no decorrer do dia em mil cabanas. Novas sombras, novas frestas, novos tons. Havia uma terceira coisa viva que habitava naquele lugar incomum, e mostrou-se diante de mim no meu primeiro dia no mundo. Os olhos.

 
 



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